sábado, 14 de julho de 2012

E é só isto...

Existe um momento em que os pés deixam de tocar a areia, o corpo desenha uma curvatura e eleva-se para depois voltar a cair. As mãos entram em contacto com o meio aquoso, depois os braços e os ombros, a cabeça e finalmente o resto do corpo. E neste momento uma sensação de paz invade todo o organismo, aqui és simplesmente tu, não existe mais ninguém, não existe mais nada, a não ser as pequenas gotas de ar que teimosamente se colam à tua pele. Com uma ligeira alteração da curvatura do corpo, começas a subir de novo, sentes-te a regressar à realidade, primeiro as mãos e os braços, depois a cabeça, e abres a boca e o ar volta a invadir-te os pulmões, realinhas o corpo e voltas a colocar os pés no chão. E neste momento foste feliz, sentiste-te pleno. Preciso deste momento para me sentir sã. Deste momento e do teu abraço, que me leva para a minha realidade, e me retira deste meu ar que me dá o epíteto de "cabra", e me devolve a pessoa calma e dócil que acredito ainda ser quando estou nos teus braços.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

À mesa dos adultos...

Durante a nossa vida existem momentos que marcam a mudança, andamos a viver cumprindo a saga de um dia atrás do outro e de repente faz-se um click e entendemos que algo mudou, que a partir daqui tudo será diferente. Esta é a sensação de estar sentado à mesa dos adultos. Chegamos a medo, como se o lugar que ocupamos não fosse realmente nosso, cheiramos o ambiente no ar e sentimos que ainda não pertencemos ao espaço. Na mesa os assuntos decorrem sem a mínima afectação da nossa presença, e nós aprendemos que podemos ficar sentados a olhar, a aprender com cada movimento, a ganhar os mesmos códigos, porque são eles que nos vão dar o respeito da gente que se senta connosco neste momento. E vemos tudo como se de um ecrã se tratasse, um ecrã interactivo, onde podemos entrar, podemos tocar e até falar, mas em que preferimos não o fazer, e nesta distância notamos nas pessoas uma representação constante, uma personagem de quem aprendeu com propriedade as regras e que as quer aplicar ali. E vislumbramos no meio da personagem alguém que já esteve no nosso lugar, que teve o seu primeiro dia na mesa dos adultos, e que aprendeu tal como nós iremos aprender... É aqui que percebemos que entrámos num caminho sem regresso para uma personagem que não gostamos, mas que sabemos que um dia vai ser nossa.