sexta-feira, 17 de junho de 2011

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"JUNHO DE 1911

Vinte e três anos, vãos inutilmente,
Sou vinte e três remorsos e fastios.
Vinte e três portos de lembrar, sombrios,
Cada um dos passados descontente,

Cada um triste de se ver presente
Na mesma vida vã que os outros, rios
De dor atravessaram fugidios
Só mortas algas indo na corrente

De futuros iguais meio em terror
Quase na crença desassossegada
De ser eternamente assim, passada.

A vida trémula, no eterno horror
De passar, desejar e, desejando,
Nada haver, e ir correndo e acabando."

6/1911 - Fernando Pessoa

PS: Porque neste dia me fazia falta saber o que Pessoa pensou no dia dele...

domingo, 5 de junho de 2011

Eu mereço!

Andei por aqui a pregar que a mentira era uma coisa má, e que me metia nojo, e hoje fui obrigada a mentir... Passo a explicar:
O meu pai pediu-me para sair de casa e ir buscar tabaco (é assim que algumas pessoas desaparecem, mas não foi o caso!) e eu lá fui, meio contrariada. No meio do caminho um tipo meu conhecido (aqui toda a gente se conhece!) mete conversa comigo, e resolve declarar o seu amor... Verdade seja dita, ele estava tudo menos sóbrio! Comecei por tentar salvar-me como sempre, usando a minha veia humorística para escapar à conversa, mas não tive sorte nenhuma. A conversa começou a incomodar-me e eu acabei por inventar um namorado, que não tenho, com nome, morada e até número de meses de relação! E, verdade seja dita, mesmo assim a coisa teve difícil... Quando ele se aproximou mais reparei que usa o mesmo perfume do M, e verdade seja dita o nó no estômago só aumentou... Se ele já não tinha hipóteses, agora está completamente aniquilado da lista!
Lá me consegui livrar da criatura e voltar para casa, com o número de telefone dele num papel no bolso das calças. E no caminho só me conseguia lembrar do João, com aquele seu ar de troça, a dizer-me: "Vês, Deus mastiga!"

PS.: Agora estou a ponderar se o papel vai para o lixo, ou a lavar junto com as calças!