domingo, 15 de dezembro de 2013

Para o futuro e mais além...

Hoje tenho um grito sufocado na garganta, um peso estranho no peito, uma dificuldade aguda em respirar... Odeio ter de dar-te razão, odeio a ideia de admitir que estás certo nas tuas palavras, odeio passar tempo a argumentar contra ti só para me convencer que ainda guardo algumas certezas. Mas no fundo sei que estou errada, que esta vida que levo não me serve mais, que me colei a uma imagem que já nem sei a quem pertence, e tudo isto está a provocar-me um horrível estado de cansaço. Decidi hoje que este era o fim, que preciso finalmente parar de me enganar, e de tentar enganar os outros. É esta a resolução de um ano novo que está por vir: Ser mais eu! Chega de toda esta fachada bonita para uma casa podre, chega de achar que tenho de estar feliz só porque muita gente queria estar no meu lugar, chega de guardar na alma todos estes gritos sufocados... Simplesmente chega! O grande problema é que no fundo nada disto é simples.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Na semana passada a meio de uma conversa, que já ia longa, perguntaste-me se eu tinha medo da morte. Acho que a minha resposta te surpreendeu. Não estavas à espera que a miúda de espírito leve te desse a resposta que eu te dei. E a pessoa egoísta que achas que sou naquele momento não fez sentido.
Não, eu não tenho medo da morte, pelo menos da minha morte. Mas não há nada de que tenha mais medo do que a morte das pessoas que me são próximas... Esta foi a minha resposta. A isto ainda acrescentei que sempre achei que ia durar pouco, que tinha curta duração. Nunca percebi porquê, mas foi sempre isso que senti, desde que me lembro de conseguir pensar.
Devo ter sido suficientemente convincente, e deves mesmo ter percebido que não me estava a armar, nem a brincar com o assunto, como quase sempre estou, porque me fizeste mais umas perguntas vagas e desviaste a conversa para outro tema.
Pediste-me para ser mais eu, e por engraçado que pareça não consegues aguentar uma resposta directa quando eu decido responder o que penso em vez de brincar com o assunto. A amizade é feita destes pontos de contacto, e tenho para mim que não vais conseguir chegar a eles, esse teu lado superficial não aguenta o meu lado profundo, por isso acho que não devias querer conhecer quem não vais conseguir olhar de frente. Se eu tivesse encontrado em ti aquilo que era necessário para conheceres esta pessoa não existiria a necessidade de me pedires para baixar as defesas, elas iriam ceder por si mesmas. Tenho pena que assim seja mas apesar de até gostar do que conheço em ti, uma grande parte do que conheço só me consegue soar a falso. E é por isso que só conheces a minha parte superficial, porque mesmo esta me parece menos falsa que quase tudo aquilo que tu me mostras.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A balançar no balanço

Achei que ao ter chegado aos 25 anos estava na idade de fazer um balanço (afinal de contas 1/4 de século é sempre uma conta redonda). E quando comecei a pensar sobre isso não consegui evitar que uma certa falta de ar se instalasse.
Chego à conclusão que cheguei até aqui sem ter feito quase nada. Se a minha vida acabasse aqui não teria deixado qualquer obra, não teria feito nada daquilo a que me propus e passei tanto tempo a preparar o futuro que me esqueci quase sempre de viver o presente.
Não, não vou fazer lista com as coisas que quero fazer, nem me estou a queixar ou lamentar, esta é apenas uma simples constatação de factos.
25 anos de pura inutilidade! Não errei o suficiente, não amei o suficiente, não aprendi o suficiente, não cresci o suficiente... Por vezes sinto que acima de tudo devia ter falhado mais, ter caído mais vezes, ter arriscado esfolar os joelhos e a alma. Mas não o fiz... E agora olho para trás e tudo aquilo que eu fiz parece curto, ficou aquém do que deveria ter sido, e só consigo lamentar ter perdido tempo que não consigo recuperar. Porque a vida é mesmo contabilizada pelo número de vezes em que se perde o ar.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Aquilo que eu sei

Não sei se és tu, ou outra pessoa qualquer, mas sinto-me perseguida. Provavelmente não é nada que venha de ti. Sou apenas eu. A minha própria mente em estado de alerta. A pele, a cor da pele da tua mão. As veias que sobressaem das costas lisas da tua mão. É nela que me perco. Nela e na dobra perfeita da tua camisa preta. Não deixas nada ao acaso, pois não? Tudo em ti é perfeito. Programado ao milímetro. Já te chega o que tens de falhar, não precisas de algo em ti que seja errado, ou desconexo.  Mas olho através de ti, para lá de ti. Por vezes através dos teus olhos, como se de janelas se tratassem. Vejo ao longe as árvores e as casas, o céu e as nuvens, tudo ao fundo é perfeito, é difuso e longínquo e por isso mais perfeito que tu. Continuas a falar e a tua voz pomposamente colocada soa-me agressiva e desconexa. Errada mesmo. Quero ir além, além da perfeição que auguras, quero mais. Quero o diferente, o errado, o perfeitamente imperfeito. A conjugação de coisas erradas que por algum acaso do destino, parecem ficar certas. É esta a perfeição que quero, o conjunto do imperfeito, não o todo da perfeição. E é nisto que penso a cada curva da estrada. A tua voz soa-me de novo aos ouvidos, relaxados do descanso, chamas-me, é o meu nome o que formula essa tua voz perfeitamente colocada, retirando-me à serenidade dos meus pensamentos e trazendo-me de volta. De volta à tua realidade. Tão longe da perfeição e tão perto daquilo que eu tenho como sonho.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Este sou eu...


Numa alma verde do musgo, repelente,
Partes, desde já, para os caminhos de ruas negras.
Negras como a alma que tenho                              
Negras como a lama que me corre nas veias.
É isso que me corre nas veias…
Nunca é sangue, é apenas tempo
Areia, transformada em lama, nojenta e viscosa.
Nunca quis ser mais que o que sou,
Nunca quis ser outro, mas de facto sei que sou muitos outros,
Muitas caras, muitos gestos, muitas personagens
Este sou eu!
O saxofone que toca aos meus ouvidos,
O calor do tempo que me corre nas veias
A cabeça que paira de forma etérea em cima dos ombros,
Este sou eu!
Aquilo que me dizem, aquilo que escrevo,
aquilo que me recuso a sentir, e a pensar,
Este sou eu!
A tua alma é apenas verde, verde como o musgo,
O que te corre nas veias é apenas sangue,
Não é tempo, nem areia, nem lama…
Esse sou eu!
Não partas então para esse lado
Para essas ruas que são minhas e não tuas…
Deixa isso para mim, deixa que a ampulheta humana seja eu.
Nós não somos iguais
A boca não te sabe a pó do caminho,
As tuas costas não se curvam perante a vida,
Os teus joelhos não dobram de vergonha e cansaço.
Esse sou eu!
Não! Não corras! Nós sabemos a verdade.
Nós não somos iguais, não o negues.
Não fujas do que te dizem.
“Nós não somo iguais!” Agora fui eu a dizer-te.
Vais negar, que sabes a verdade?
A tua alma de musgo sabe a verdade,
A tua pele sabe a verdade.
Eu sou diferente de tudo e de todos.
No meu corpo corre apenas tempo,
Tempo em estado líquido,
Areia transformada em lama!
É isso que queres para ti?
Um corpo incapaz de ser o que é,
Uma mente que se aprisiona dentro de outras,
Alguém que não é, mas que apenas transporta fragmentos!?
Este sou eu!
Tu não queres ser outros, queres apenas saber quem és.
Não estiveste no limbo.
Não são teus os pés poeirentos que se arrastam no caminho.
Esse sou eu!



quinta-feira, 2 de maio de 2013

Submergir


É no meio aquoso que tive origem, e é nele que sempre procuro refúgio. Nunca percebi porque motivo isso me acontece, mas não consigo deixar de sentir que tudo se resolvia num espaço em que estaria submersa, envolta em água. Cada vez que sinto que a cabeça vai explodir e que já não consigo suportar a situação imagino-me a mergulhar e a sensação de suspensão e de abandono do corpo faz, sem que eu consiga perceber porquê, todo o sentido.
A sensação do corpo completamente submerso na água, e da pele nua em total contacto com o meio, todos os poros, todos os pequenos sensores, parece-me ser a sensação primordial.
E por vezes é tão necessário sentir que o tempo para, tudo fica em silêncio, que nada existe para além do vazio. E é esta sensação que busco até sentir os pulmões contrair, provocados por vários espasmos do diafragma, que como murros no estômago, me obrigam a voltar à realidade.


sexta-feira, 26 de abril de 2013

Put@ que pariu isto tudo!

Isto de ser parva um dia ainda me mata!
Então não é que eu tenho uma alma podre, e que sou má pessoa e arrogante, e estou sempre na defesa ou no ataque e isso faz de mim irascível...  E estou próxima da melhor alma do mundo, que um dia vai ser uma óptima pessoa quando crescer, puro e desinteressado, e dou com essa alma a falar de mim nas minhas costas. 
É sempre bom saber que transparência e lealdade está fora de moda. É sempre mais fácil ficar sentado a mandar "postas de pescada" e a dizer o que outros deviam fazer. Estou farta da impassividade, de "olha para mim a fazer o meu dever", quando depois se é incapaz de esticar um dedo para fazer mais que isso, quando não se assumem responsabilidades para não falhar. A mim ensinaram-me que só quem faz as coisas é que falha, quem não as faz não pode falhar! Fartinha de gente sonsa já eu estou, e nem é de agora! 
Meu caro, eu avisei que era melhor não me quereres fazer a caveira porque isso normalmente não corre muito bem... Já me calei por duas vezes, e eu sigo sempre o lema "À primeira por graça passa, à segunda por graça passará ou não." Por isso o meu "Para o c@ralho pá!" foi a coisa mais suave que te vai acontecer a partir daquele momento... Eu avisei que estava farta de lobos em pele de cordeiro, e que não gostava de gente sonsa, se não percebeste o recado então para além de sonso és burro!


quarta-feira, 3 de abril de 2013

O Andaime

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anônimo e frio,
A vida vivida em vão.

A 'sp'rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha 's'prança,
Rola mais que o meu desejo. 

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam - verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer. 

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou. 

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida! 

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido. 

Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças -
Mortas, porque hão de morrer. 

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim -
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser - muro
Do meu deserto jardim. 

Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Saudades...

Hoje tenho saudades tuas. Sim, tuas!
Tenho saudades do seu sorriso, da tua alegria, da tua forma de estar na vida. Tenho saudades da espontaneidade, dos abraços sentidos, da capacidade de dizer tudo sem dizer rigorosamente nada. Tenho saudades da tua bondade, da tua ingenuidade, da tua pureza de carácter. 
Hoje tenho saudades tuas porque sei que não voltas, que não existes mais. Que por mais que eu tenha tentado deixar-te viva, não conseguiste sobreviver ao passar do anos, às feridas, às traições, às desilusões. Partiste para longe, sem malas e sem bilhete de regresso, sem um adeus e sem nenhuma explicação. Um dia tentei encontrar-te e já não estavas lá, tinhas desaparecido. Chamei-te em vão, procurei-te nos grandes acontecimentos e nas pequenas coisas, por dentro e por fora, mas já não estavas. E não dei por teres ido, não dei pelas tuas ultimas palavras, nunca vou saber quais foram, de tão misturadas que estavam já com as minhas.
Mas continuo a sentir a tua falta, e a procurar ter mais de ti do que de mim...