quarta-feira, 8 de maio de 2013

Aquilo que eu sei

Não sei se és tu, ou outra pessoa qualquer, mas sinto-me perseguida. Provavelmente não é nada que venha de ti. Sou apenas eu. A minha própria mente em estado de alerta. A pele, a cor da pele da tua mão. As veias que sobressaem das costas lisas da tua mão. É nela que me perco. Nela e na dobra perfeita da tua camisa preta. Não deixas nada ao acaso, pois não? Tudo em ti é perfeito. Programado ao milímetro. Já te chega o que tens de falhar, não precisas de algo em ti que seja errado, ou desconexo.  Mas olho através de ti, para lá de ti. Por vezes através dos teus olhos, como se de janelas se tratassem. Vejo ao longe as árvores e as casas, o céu e as nuvens, tudo ao fundo é perfeito, é difuso e longínquo e por isso mais perfeito que tu. Continuas a falar e a tua voz pomposamente colocada soa-me agressiva e desconexa. Errada mesmo. Quero ir além, além da perfeição que auguras, quero mais. Quero o diferente, o errado, o perfeitamente imperfeito. A conjugação de coisas erradas que por algum acaso do destino, parecem ficar certas. É esta a perfeição que quero, o conjunto do imperfeito, não o todo da perfeição. E é nisto que penso a cada curva da estrada. A tua voz soa-me de novo aos ouvidos, relaxados do descanso, chamas-me, é o meu nome o que formula essa tua voz perfeitamente colocada, retirando-me à serenidade dos meus pensamentos e trazendo-me de volta. De volta à tua realidade. Tão longe da perfeição e tão perto daquilo que eu tenho como sonho.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Este sou eu...


Numa alma verde do musgo, repelente,
Partes, desde já, para os caminhos de ruas negras.
Negras como a alma que tenho                              
Negras como a lama que me corre nas veias.
É isso que me corre nas veias…
Nunca é sangue, é apenas tempo
Areia, transformada em lama, nojenta e viscosa.
Nunca quis ser mais que o que sou,
Nunca quis ser outro, mas de facto sei que sou muitos outros,
Muitas caras, muitos gestos, muitas personagens
Este sou eu!
O saxofone que toca aos meus ouvidos,
O calor do tempo que me corre nas veias
A cabeça que paira de forma etérea em cima dos ombros,
Este sou eu!
Aquilo que me dizem, aquilo que escrevo,
aquilo que me recuso a sentir, e a pensar,
Este sou eu!
A tua alma é apenas verde, verde como o musgo,
O que te corre nas veias é apenas sangue,
Não é tempo, nem areia, nem lama…
Esse sou eu!
Não partas então para esse lado
Para essas ruas que são minhas e não tuas…
Deixa isso para mim, deixa que a ampulheta humana seja eu.
Nós não somos iguais
A boca não te sabe a pó do caminho,
As tuas costas não se curvam perante a vida,
Os teus joelhos não dobram de vergonha e cansaço.
Esse sou eu!
Não! Não corras! Nós sabemos a verdade.
Nós não somos iguais, não o negues.
Não fujas do que te dizem.
“Nós não somo iguais!” Agora fui eu a dizer-te.
Vais negar, que sabes a verdade?
A tua alma de musgo sabe a verdade,
A tua pele sabe a verdade.
Eu sou diferente de tudo e de todos.
No meu corpo corre apenas tempo,
Tempo em estado líquido,
Areia transformada em lama!
É isso que queres para ti?
Um corpo incapaz de ser o que é,
Uma mente que se aprisiona dentro de outras,
Alguém que não é, mas que apenas transporta fragmentos!?
Este sou eu!
Tu não queres ser outros, queres apenas saber quem és.
Não estiveste no limbo.
Não são teus os pés poeirentos que se arrastam no caminho.
Esse sou eu!



quinta-feira, 2 de maio de 2013

Submergir


É no meio aquoso que tive origem, e é nele que sempre procuro refúgio. Nunca percebi porque motivo isso me acontece, mas não consigo deixar de sentir que tudo se resolvia num espaço em que estaria submersa, envolta em água. Cada vez que sinto que a cabeça vai explodir e que já não consigo suportar a situação imagino-me a mergulhar e a sensação de suspensão e de abandono do corpo faz, sem que eu consiga perceber porquê, todo o sentido.
A sensação do corpo completamente submerso na água, e da pele nua em total contacto com o meio, todos os poros, todos os pequenos sensores, parece-me ser a sensação primordial.
E por vezes é tão necessário sentir que o tempo para, tudo fica em silêncio, que nada existe para além do vazio. E é esta sensação que busco até sentir os pulmões contrair, provocados por vários espasmos do diafragma, que como murros no estômago, me obrigam a voltar à realidade.